O dia mal começou, e um homem grisalho vem chegando em sua casa, em um bairro simples, periferia de alguma grande cidade por aí. Traz consigo o jornal, que prudentemente comprou, na mesma banca que tomou um café com velhos amigos. Seu nome é Epaminondas. "Seu Epa", para os vizinhos. Podia ser João ou José, a pronúncia é bem mais fácil, mas seus pais lhe deram esse lindo nome que parece nome de remédio... para o fígado? Bem que podia ser algo mais nobre.
Átila, o cachorro, espera no portão, e o segue até a sala. Deita no tapete, e espera sua ração. O homem enche um pote com o apetitoso manjar canino e coloca ao lado do companheiro. Senta-se no sofá, ajeita os óculos e passa a ler o diário. Um presidente falou mal do outro, um ator bateu o carro, um bandido escapou da prisão. Todo dia é a mesma coisa. Ele olha o cão e pensa: que vida boa, ser um animal. Sem impostos, sem preocupação alguma, sem ter que andar vestido, sem ter que fechar a porta da rua que deixei aberta...
O peso dos anos de trabalham já o incomodam, e não é tão fácil como antes sair da poltrona. Após duas tentativas, ele consegue. Vai até a sala, fecha a porta, passa pela cozinha e pega um café. Jogou o jornal em algum lugar que depois vai ter que procurar, e liga a TV.
Esperava encontrar alguma coisa qualquer para ver, ou para criticar, pelo menos. Plantão. Notícia de última hora. E já é polêmica. Um homem encontrado morto pela manhã, na garagem de um prédio onde funcionam vários escritórios. Advogados, médicos, agiotas. O homem se empolga. Enfim, algo diferente em uma segunda-feira chata e sem graça.
O jovem repórter mostra o local onde estava o corpo, como se isso ajudasse a explicar a morte. A vítima era um jovem empresário emergente, estava indo encontrar com seu advogado, que nada explicou também. A polícia não quer dar detalhes, tudo está sendo investigado. Nada foi roubado, quebrado ou mudado de lugar. A única evidência até então são marcas no pescoço do homem, como se tivesse sido estrangulado. Um policial ordena que parem de filmar, e acaba a brincadeira.
Seu nondas, seu nondas, alguém vem gritando. É o garoto filho do vizinho, que ainda não consegue dizer certo o nome do simpático vovô. Ele vem trazer biscoitos para o cão todo dia. Coisa de criança que não tem um cachorro, se apegou ao do vizinho. Assim como entrou, logo vai saindo pela porta dos fundos, deixando um rastro de sujeira, trazida pelos pés imundos do quintal. O canino fica todo animado, mas não segue o garoto. Olha para o dono, que o dispensa: pode ir, mas volte logo!
Epaminondas passou o dia em casa, acompanhando os noticiários, que não cessaram. Todos queriam saber a causa mortis do empresário, mas o IML não liberou informação alguma que pudesse explicar o caso. Somente à noite, num telejornal menos cotado de uma emissora menor, que uma evidência surge. Um furo de um jovem repórter: existe uma testemunha do fato. Alguém viu a vítima saindo de seu carro, e estava viva ainda. Teria fechado o veículo, e logo em seguida levado a mão ao pescoço, como se algo o incomodasse. Logo, estava caído ao chão. A testemunha, de rosto não identificado e voz adulterada, sentira medo e saiu correndo para seu trabalho.
'Que bobagem', pensava Epaminondas. Tanta gente que morre todo dia, para que a preocupação com esse? É só mais um, ora. E tomou o cão pela coleira para passear pelo bairro. O ar fresco da noite lhe fazia bem. Gostava especialmente de passar em frente aos bares, e ver a garotada que se reunia por ali, principalmente as moças... ah! As moças. Quem dera ter de novo seus 20 e poucos anos.
segunda-feira, 22 de dezembro de 2008
sexta-feira, 12 de dezembro de 2008
saudade
palavra
perdida
ao vento
foi dizer
que era o fim
agora
olhos cheios d'água
pagam
pelos
pecados
saudade
palavra
que não quer mais ouvir.
perdida
ao vento
foi dizer
que era o fim
agora
olhos cheios d'água
pagam
pelos
pecados
saudade
palavra
que não quer mais ouvir.
terça-feira, 9 de dezembro de 2008
sonhos psicodelicos
na esquina
escrevo
com meus passos...
meu amanhã
é torto em linhas retas
nas entrelinhas
do trem...
encontro comigo mesmo
num bar
à espera de um drinque...
no espelho
alguém me nota
e eu nem escovei os dentes.
num súbito,
o infinito se dobra
a taça escorrega
o chão se abre
e meu despertador precisa de mim.
escrevo
com meus passos...
meu amanhã
é torto em linhas retas
nas entrelinhas
do trem...
encontro comigo mesmo
num bar
à espera de um drinque...
no espelho
alguém me nota
e eu nem escovei os dentes.
num súbito,
o infinito se dobra
a taça escorrega
o chão se abre
e meu despertador precisa de mim.
quarta-feira, 3 de dezembro de 2008
in the darkness
ouço vozes
enfrento a passos largos
a escuridão
de um fim de mundo qualquer
esqueço que poças d'água
molham meus pés descalços
meus olhos
já acostumaram
sem luz
minhas mãos estão calejadas
de me sustentar
nas vezes que quase caí
mais à frente
pode estar a resposta
pode estar o fim
de um martírio, um suplício
então
não paro jamais
nada me impede
até que chegue a hora certa
de parar.
enfrento a passos largos
a escuridão
de um fim de mundo qualquer
esqueço que poças d'água
molham meus pés descalços
meus olhos
já acostumaram
sem luz
minhas mãos estão calejadas
de me sustentar
nas vezes que quase caí
mais à frente
pode estar a resposta
pode estar o fim
de um martírio, um suplício
então
não paro jamais
nada me impede
até que chegue a hora certa
de parar.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
imperfeições
se sou de metal
me retorceria
me derreteriam
seria refeito
se sou de papel
me amassaria
me reclirariam
seria refeito
se sou pedra
me quebraria
me acumulava
me refazia
mas
se sou de carne
como sou
me retorço, me amasso e me quebro
me refaço
mas sigo o mesmo
me retorceria
me derreteriam
seria refeito
se sou de papel
me amassaria
me reclirariam
seria refeito
se sou pedra
me quebraria
me acumulava
me refazia
mas
se sou de carne
como sou
me retorço, me amasso e me quebro
me refaço
mas sigo o mesmo
terça-feira, 28 de outubro de 2008
urbanofobia 1
corro pela rua
procurando algo
que não está mais lá
cada esquina
cada sinal
é um dia perdido
e uma noite sem sono
cada alma perdida
debaixo do viaduto
é um pesadelo
que não tem fim
na mesma noite
os olhos
fechados
lacrados
de dor
da cor que não existe mais
sem destino assim
sem saída
sem sono
só ainda o pesadelo
e as almas
no sinal
pedem um trocado
que também
não tenho
e mais uma noite
mais uma esquina
menos uma alma
procurando algo
que não está mais lá
cada esquina
cada sinal
é um dia perdido
e uma noite sem sono
cada alma perdida
debaixo do viaduto
é um pesadelo
que não tem fim
na mesma noite
os olhos
fechados
lacrados
de dor
da cor que não existe mais
sem destino assim
sem saída
sem sono
só ainda o pesadelo
e as almas
no sinal
pedem um trocado
que também
não tenho
e mais uma noite
mais uma esquina
menos uma alma
sem título - para o amore
chego perto da janela
fecho os olhos
para sentir
o cheiro do vento
e o som da noite...
longe, longe, ouço sussurros...
sinto saudade,
saudade de quando era criança
saudade de olhar o céu estrelado
sinto ainda
o cheiro de terra molhada
na porta da cozinha...
sinto ainda falta
de muito do que não volta...
de repente,
sinto teu cheiro
como se viesse com o vento...
e sinto a tua falta
junto a mim....
fecho os olhos
para sentir
o cheiro do vento
e o som da noite...
longe, longe, ouço sussurros...
sinto saudade,
saudade de quando era criança
saudade de olhar o céu estrelado
sinto ainda
o cheiro de terra molhada
na porta da cozinha...
sinto ainda falta
de muito do que não volta...
de repente,
sinto teu cheiro
como se viesse com o vento...
e sinto a tua falta
junto a mim....
segunda-feira, 27 de outubro de 2008
segundas
toda semana
é igual
segunda-feira
sem graça
sem praça
sem abraço
todo dia
é igual
sem sol
sem lençol
sem beijos de boa noite
toda segunda
é chata
e me mata
de saudade
é igual
segunda-feira
sem graça
sem praça
sem abraço
todo dia
é igual
sem sol
sem lençol
sem beijos de boa noite
toda segunda
é chata
e me mata
de saudade
terça-feira, 7 de outubro de 2008
...
estendo meus braços
sobre a cidade
escuridão do quarto
luzes lá fora
movimento
e calmaria
no 2x1
de uma janela
sobre a cidade
escuridão do quarto
luzes lá fora
movimento
e calmaria
no 2x1
de uma janela
segunda-feira, 6 de outubro de 2008
pombos
quarta-feira, 14 de maio de 2008
canção a um guerreiro
a amada
estende os cabelos ao sol
após o banho
espalha aromas ao vento
espera paciente
o guerreiro que retorna
da batalha
ele
traz no rosto
o suor do sacrifício
o braço cansado
o corpo dolorido
mas traz a certeza
de que fez o que devia
estende-se na sala
cerra os olhos
suspira
ainda sente o dia
o calor da batalha
as dores da luta
e descansa
amanhã será
outra vez
outra batalha
na sua vida
de operário
estende os cabelos ao sol
após o banho
espalha aromas ao vento
espera paciente
o guerreiro que retorna
da batalha
ele
traz no rosto
o suor do sacrifício
o braço cansado
o corpo dolorido
mas traz a certeza
de que fez o que devia
estende-se na sala
cerra os olhos
suspira
ainda sente o dia
o calor da batalha
as dores da luta
e descansa
amanhã será
outra vez
outra batalha
na sua vida
de operário
domingo, 6 de abril de 2008
urbano - original de 25.4.04
do outro lado da rua
passa alguém apressado
e meus olhos cansados
observam o sol se pôr
menos um dia
uma outra noite
outro dia logo mais
tão logo nasce o sol
saio, corro, procuro
não encontro explicação
-dobro a esquina
e não vejo nada
meus olhos cansados
procuram um rosto
mas tudo o que vejo
são outros olhos cansados
logo, um carro
mais adiante outro
luzes ofuscam
vão e vêem
e meus olhos cansados
se fecham de dor
sem título - original de 16.6.03
é tão certo
o que fazemos
e parece tanto
com aquilo que já vimos
mas tudo é novo
cada dia é igual
-mas único
e não vemos mais
como víamos ontem
o que havia
no outro dia
então abro os olhos
e sei que é
tudo diferente
olho no espelho
e conheço o amanhã
apago a luz
e durmo pra ver
o outro dia
dentro de mim.
o que fazemos
e parece tanto
com aquilo que já vimos
mas tudo é novo
cada dia é igual
-mas único
e não vemos mais
como víamos ontem
o que havia
no outro dia
então abro os olhos
e sei que é
tudo diferente
olho no espelho
e conheço o amanhã
apago a luz
e durmo pra ver
o outro dia
dentro de mim.
sem titulo - originalmente em 14.8.98
enquanto houver
amanhã
as flores estarão
coloridas
enquanto houver
amanhã
o sol estará
brilhando
-rindo de mim...
enquanto houver
amanhã
eu estarei
chorando
-esperando você...
amanhã
as flores estarão
coloridas
enquanto houver
amanhã
o sol estará
brilhando
-rindo de mim...
enquanto houver
amanhã
eu estarei
chorando
-esperando você...
segunda-feira, 31 de março de 2008
alone
some people look me
they call me cold
cold heart, cold day
days and nights waiting
but you don't look me
days of pain
days of smile
false smile
false pain
cold heart
stone heart
you don't be here
and I don't stay
waiting
no more
and this little things go pass
they call me cold
cold heart, cold day
days and nights waiting
but you don't look me
days of pain
days of smile
false smile
false pain
cold heart
stone heart
you don't be here
and I don't stay
waiting
no more
and this little things go pass
quinta-feira, 27 de março de 2008
embaçado
a vidraça
molhada
distorce meus pensamentos
uma gota que cai
de olhos molhados
sem ter chuva
saio pela tangente
alço um vôo
por entre nuvens
de algodão doce
nem chego a perceber
que o dia passou
e a chuva se foi
molhada
distorce meus pensamentos
uma gota que cai
de olhos molhados
sem ter chuva
saio pela tangente
alço um vôo
por entre nuvens
de algodão doce
nem chego a perceber
que o dia passou
e a chuva se foi
quarta-feira, 19 de março de 2008
saída
queria ir pra bem longe
fechar a porta
e jogar as chaves fora
mas não tenho nada
e também nada a temer
tenho tanto a dizer
mas falta palavras
olho a estrada
e sinto desejo
mas o medo
interrompe meu sono
meus passos largos
não são suficientes
e a distância parece q aumenta
na bagagem
não tenho nada pra levar
mas tenho
um enorme coração
tenho meus planos
mas planos não se realizam
sem seu tempo certo
queria ir pra bem longe
mas o longe
às vezes é perto
e se saio por um instante
já perco a noção
e se saísse
perderia mais
se fecho a porta
deixo alguém pra trás
e as chaves que jogo fora
vão faltar depois
para quem chegar
não tenho o que levar
mas tenho
a mala cheia
e o coração vazio
segunda-feira, 17 de março de 2008
adeus
sem nome
olho para o nada
pois já não quero
ver nada
não me interessa
o que está aqui ou lá
pouco me faz diferença
quero nada agora
quero o silêncio da morte
e o barulho da fábrica
sinto o frio na pele
mas o cobertor ficou pra trás
esqueço de algo
paro no tempo
sinto o fogo
queima os olhos
quero pouco
ou quase nada
quero frio e calor
enquanto espero ninguém
sinto nada
sou morte gelada e silenciosa
e fábrica movimentada
olho o nada esperando
pois já não quero
ver nada
não me interessa
o que está aqui ou lá
pouco me faz diferença
quero nada agora
quero o silêncio da morte
e o barulho da fábrica
sinto o frio na pele
mas o cobertor ficou pra trás
esqueço de algo
paro no tempo
sinto o fogo
queima os olhos
quero pouco
ou quase nada
quero frio e calor
enquanto espero ninguém
sinto nada
sou morte gelada e silenciosa
e fábrica movimentada
olho o nada esperando
sexta-feira, 14 de março de 2008
calor
enrosca
quarta-feira, 12 de março de 2008
correria
saio
chego
ônibus
casa
trabalho escravo
chego cansado
sapatos mordem
gravatas enforcam
escravo
do ir e vir
abolição por favor
chego
ônibus
casa
trabalho escravo
chego cansado
sapatos mordem
gravatas enforcam
escravo
do ir e vir
abolição por favor
segunda-feira, 10 de março de 2008
estrada
sigo
a passos lentos
olhar para trás
não me mostra mais nada
é torto o caminho
mas é nele que sigo
meus pés sentem
o chão sujo
e seco de muitos dias
a pressa não vem comigo
e não chego a lugar algum.
a passos lentos
olhar para trás
não me mostra mais nada
é torto o caminho
mas é nele que sigo
meus pés sentem
o chão sujo
e seco de muitos dias
a pressa não vem comigo
e não chego a lugar algum.
sexta-feira, 29 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008
quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008
para baixo e para onde?
ando pela rua estreita
sem rumo
destino não é nada
quando não se tem
estrada alguma
o sapato sente
as pedras do caminho
são pontiagudas
ferem
o sentimento
de não saber onde ir
deixo pra trás
uma esquina
para um lugar
que não sei qual é
e dobro adiante
encontro
o desencontro das ruas
sem saída
sigo em frente
sobre os telhados
sem rumo
destino não é nada
quando não se tem
estrada alguma
o sapato sente
as pedras do caminho
são pontiagudas
ferem
o sentimento
de não saber onde ir
deixo pra trás
uma esquina
para um lugar
que não sei qual é
e dobro adiante
encontro
o desencontro das ruas
sem saída
sigo em frente
sobre os telhados
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