domingo, 4 de junho de 2017

now I'm walking
and the road is one-way
now I'm walking
and you don't go with me
stay where you are
stay in your life
strange days
strange life
you don't go
is this only a road
and my way

sexta-feira, 7 de maio de 2010

onde está meu corpo [continuando]

Meu prédio é numa esquina, com a entrada principal em uma rua e um portão para carros na outra. É por ali que entro, e rapidamente subo por uma escada de emergência que foi instalada não faz muito tempo. Afinal, isso é uma emergência. Logo, estou no segundo andar, à porta de meu kit-net. Não há ruído algum, as luzes estão desligadas. Forço a porta, está trancada. Vou precisar fazer uma manobra arriscada, e arrombar a porta da cozinha, que nunca é usada mesmo. A maioria dos vizinhos ainda não está em casa, não chegaram os que estudam ou trabalham. São seis por andar. A única pessoa que deve estar em casa é a vovozinha que mora no 205, que deve estar absorta na novela.
Enfio o pé na porta que logo cede. Eu sabia que não era segura. E só deixei um trinco fechado. Rapidamente fecho e coloco uma cadeira segurando, para não despertar a curiosidade da vizinhança. Tudo está no seu lugar. Tenho uma chave reserva na cozinha, o que vai me ajudar a sair amanhã. Vou até o quarto e sento em frente ao espelho. O que é que há comigo? Quem sou eu? De quem é esse corpo? E pior: onde está meu corpo? Até então, eu não havia olhado a carteira no bolso da calça, que, obviamente, não é a minha. Ainda confuso, pego a carteira e espalho as coisas na cama. Algum dinheiro, documentos. Não faço a mínima idéia de quem seja. Junto aos documentos, um comprovante de endereço bem dobradinho. Está no nome de uma outra pessoa que também não tenho noção de quem seja.
Decido tomar um banho e dormir um pouco, estou me sentindo bastante cansado, mais que o normal. Depois penso no que fazer. Ao menos, estou em casa. Saio do banho já quase dormindo, e me jogo na cama. Ligo a TV, mas acho que ela me assiste, pois adormeço em seguida.
II
Acordo assutado. Está escuro e frio. Novamente não estou no mesmo lugar. Estou deitado no gramado da praça. Me apalpo os bolsos. A chave de casa. Minha carteira está jogada no chão, os documentos espalhados. Fui assaltado? Será que adormeci no ônibus e fui jogado pra fora, depois levaram meu dinheiro?
Tento organizar os pensamentos, a cabeça está doendo, levaram meus sapatos também. Eram sapatos novos! Saio da praça, olho ao redor. Estou a algumas quadras de casa.
Meu prédio é numa esquina... mas felizmente estou com a chave! Entro e encontro com o  porteiro:
- boa noite! Acredita que dormi no ônibus e me assaltaram? Ainda bem que deixaram os documentos. O pior que tive um pesadelo...
- boa noite... deixou sua TV ligada o dia todo então?
- não - retruquei - mas...
Ele me interrompe novamente - está ligada, dá pra ouvir do corredor.
Peço desculpas e subo rapidamente. Tenho certeza de que desligo tudo pela manhã antes de sair. Não é possível...
Entro em casa, a porta da cozinha arrombada, a TV ligada.... e um homem dorme no sofá.
Então não foi sonho?
Acho que preciso de ajuda.
Uma colega de trabalho outro dia falou algo sobre palestras relacionadas a experiências fora do corpo, mas sinceramente não acredito nessas coisas. Devo ligar pra ela?
- alô, é Luci?
- sim, é você, Claudio? O que faz me ligando a essa hora?
- preciso falar sobre uma coisa muito estranha, mas acho melhor pessoalmente, ou você vai achar que estou maluco! Pode pegar um táxi e vir na minha casa, por mais estranho que possa parecer? Tem um homem deitado no meu sofá, e não faço ideia de como chegou aqui.
Ela exitou por um momento - tá bom, estou indo.
Luci é uma pessoa fantástica, me ensinou quase tudo do trabalho. É graduada em Veterinária, mas deixou a profissão após perder um gato em uma cirurgia. Não suportaria ver mais animais morrerem em suas mãos. Hoje ela faz psicologia e trabalha no RH da empresa.
Alguns minutos e ela está na portaria.
Fiz café. sentamos à cozinha e conto o que aconteceu. Ela observa e pensa.
- não faz sentido - afirma. as experiências extracorpóreas são EXTRA por serem sem corpo.
- pois bem - balanço a cabeça. isso foi o que aconteceu. achei que fosse um pesadelo, mas aí está o corpo que eu trouxe pra casa, posso dizer assim? Não sei o que faço com ele quando acordar.
- vamos esperar? e perguntar a ele como chegou aqui?
Me pareceu boa a ideia, ao menos Luci teria certeza que eu não estava imaginando coisas. Cedi minha a ela, e fiquei na sala, vigiando meu hóspede.